Condenação de Eduardo Cunha não remete ao sentimento de justiça

Eduardo Cunha sendo conduzido por agentes da Polícia Federal (Giuliano Gomes/PR Press)
A notícia do dia, evidentemente, foi a condenação do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, feita pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba. Os crimes indicados pelo magistrado foram corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas. Somadas, as penas chegam a 15 anos e quatro meses de prisão. Cunha, pasmem!, ainda é investigado em ao menos outros cinco inquéritos.

Batido o martelo em sua condenação, deixo no ar alguns questionamentos: como uma pessoa que praticava corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão fraudulenta de divisas consegue não apenas ser deputado, mas chegar a presidência da segunda maior instância legislativa do país? Onde estavam os órgãos de fiscalização dos processos eleitorais que aceitaram sua candidatura e jamais desconfiaram (imagino eu!) de seu enriquecimento ilícito, por exemplo? Que moral uma pessoa envolvida em tamanha lama tinha para desencadear o processo que terminou no impedimento da presidenta Dilma, sem que a mesma tivesse, até segunda ordem, cometido crimes semelhantes aos que ele já cometia?

O Brasil é o país do jogo de interesses. Ele prospera, doa a quem doer. Fazer política, em sua verdadeira essência, não é para os bons, pois boa parte dos políticos, talvez a imensa maioria, a utiliza apenas para tirar proveito da influência e das beneficias que o mandato lhe convém. Eduardo Cunha é a prova viva disso. E outros mais.

A condenação dele, muito embora não tenhamos a certeza de que vá pagar a pena integralmente, deveria nos remeter ao sentimento de justiça. De que, aos poucos, estamos colocando o país nos trilhos. Mas, não! É intragável imaginar que somente agora, após tantos desmandos praticados, após ele determinar o futuro da nação, é que se coloca o mesmo atrás das grades.

A sensação é exatamente a mesma do portador de diabetes que descobre a doença tardiamente. Ele até vai conseguir controlá-la, mas o mal que ela já fez não tem volta.


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